quarta-feira, 13 de maio de 2015

Clube dos Haxixins

Seria a maconha tão prejudicial quanto dizem?



Fala galera! Depois de entender como o pessoal tenta relaxar com as drogas de prescrição vamos passar a outro método muito procurado para o mesmo fim: a maconha.
A cannabis é conhecida e utilizada pela humanidade, para os mais diversos fins, há pelo menos 6000 anos. Sua origem não é bem conhecida, mas evidências apontam para a região da Ásia Central. A farmacopéia Pen Tsao Ching, escrita em 100 dC, reunia as propriedades farmacológicas das plantas medicinais utilizadas a séculos, e entra elas estava presente a cannabis. Desde então a utilização da planta era diretamente ligada a rituais de cura e ao misticismo.
Na cultura hindu, por exemplo, o uso da maconha possui grande representatividade religiosa. Segundo a tradição indiana, a planta fora um presente dos deuses, capaz de prover prazer e coragem.



Em 1845, na França, um grupo de artistas e escritores se reunia no Clube dos Haxixins, onde o objetivo era cultuar o consumo do haxixe e fomentar a produção artística.Curiosamente nesta mesma época Lewis Carroll publicou o livro Alice no País das Maravilhas, povoada por imagens alusórias ao uso de haxixe.
A medicina retomou seu uso terapêutico nessa mesma época, principalmente no tratamento de asma, tosse e doenças nervosas. Somente no fim do século XVIII os movimentos contrários ao uso de psicotrópicos ganham força. No século XIX, ao final da década de 30, a maconha, a cocaína e diversas outras substâncias já eram proibidas em diversos países.
O movimento beatnik, o movimento hippie e o fim dos anos 70 difundiram novamente o uso da maconha no ocidente, como forma de protesto social e político de uma geração.



Sim, mas e a bioquímica?


A principal substância bioativa presente na maconha é o tetrahidrocanabiol, o THC. Este é apenas um dos 66 fitocanabinóides presentes na planta, porém é o mais estudado e que media grande parte dos efeitos comportamentais. O THC pode interagir com dois tipos de receptores canabinóides presentes em nosso organismo: o CB1, que se distribui pelo Sistema Nervoso Central; e o CB2, encontrados nos tecidos periféricos.



O mecanismo de atuação do THC sobre o organismo não é completamente conhecido, mas sabe-se que alguns receptores localizam-se nos neurônios opióides endógenos. Uma interação entre esses neurônios e os neurônios dopaminérgicos do sistema límbico provoca a liberação de dopamina na fenda sináptica, o que é responsável pelo efeito clínico de euforia e prazer relacionados ao uso da droga. Aqui uma animação muito didática a respeito da ação do THC sobre o SNC.

Os efeitos do consumo de maconha dependem de diversos fatores, como a concentração de THC da planta e a sensibilidade do usuário, mas, em geral, há alterações nos sentidos, cognitivas e de humor. Há alterações da noção de tempo e espaço, e ilusões visuais e auditivas. O humor pode variar de um estado eufórico à sintomas de mal-estar psíquico, como tristeza, sensação de pânico e perda do controle. O pensamento se lentifica e as associações de idéia ficam menos coerentes, tendendo à mudança de assunto ou à incapacidade de articular o pensamento com a mesma facilidade habitual. Há também um aumento exagerado do apetite, voltado principalmente para o consumo de carboidratos.

Os efeitos adversos da Cannabis podem ser divididos em duas categorias: os efeitos do hábito de fumar a planta e os causados pelas principais substâncias isoladas (canabinóides). O fumo crônico provoca alterações das células do trato respiratório e aumenta a incidência de câncer de pulmão. Um dos efeitos associados ao longo tempo de exposição aos canabinóides é a dependência dos efeitos psicoativos com a cessação do uso. Os sintomas da dependência dos efeitos psicotrópicos da planta incluem agitação, insônia, irritabilidade, náusea e câimbras. Pesquisas também mostram que a Cannabis não causa dependência física (como cocaína, heroína, cafeína e nicotina) e que a suspensão do uso não causa síndrome de abstinência (como o álcool e a heroína).

E na Medicina?

O uso medicinal da Cannabis hoje é permitido em alguns estados americanos e em determinados países, para aliviar sintomas relacionados ao tratamento de câncer, AIDS, esclerose múltipla e síndrome de Tourette. Muitos oncologistas e pacientes defendem o uso da Cannabis, ou do D9-THC, como agente antiemético. Desta maneira, o uso da Cannabis na quimioterapia pode ser eficiente em pacientes apresentando náuseas e vômitos, sintomas que não são controlados com outros medicamentos.
A alta pressão intra-ocular é um dos fatores de risco para desenvolvimento de glaucoma e a planta Cannabis pode agir diminuindo esta pressão, mas este efeito é de curta duração e só é conseguido com altas doses da planta. Apesar do glaucoma ser uma das indicações mais citadas para o uso da Cannabis, a droga só é utilizada em casos mais graves. Uma atividade biológica apresentada pelos compostos canabinóides é a analgésica. Na história, diversos compostos alucinógenos, como o ópio, foram relacionados à atividade analgésica. Em relatos científicos, a morfina aparece em 1803 e tem sua estrutura definida em 1925. Este foi o ponto de partida para modificações estruturais nas moléculas de canabinóides, visando aumentar a atividade analgésica e diminuir a dependência causada pela droga. Alguns compostos canabinóides modificados chegaram a apresentar um potencial analgésico cerca de 6000 vezes superior ao da morfina.



Como vimos, a história do uso de cannabis é longa, diversa e controversa. O assunto é delicado e promove discussões acaloradas. Sobre o uso entre universitários, a legalização e mais ainda, esperem pelo próximo post! (E visitem o blog Bioquímica nas Políticas Sociais)


Referências


  • HONORIO, Káthia Maria; ARROIO, Agnaldo; SILVA, Albérico Borges Ferreira da. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Quím. Nova, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 318-325, Apr. 2006. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422006000200024&lng=en&nrm=iso>. access on 13 May 2015. 
  • Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

6 comentários:

  1. Muito interessante saber do uso medicinal da maconha como antiemético e no glaucoma, patologia essa de difícil controle. Vale ressaltar que na década de 70, muitos compostos canabinóides foram isolados e sintetizados e as principais rotas de síntese e biossíntese foram elucidadas . Algumas indústrias e laboratórios acadêmicos desenvolveram fármacos baseados nas estruturas de compostos canabinóides, mas uma das dificuldades encontradas foi o isolamento dos efeitos psicotrópicos.
    http://quimicanova.sbq.org.br

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  2. GRUPO E:

    O uso da maconha pode tornar-se prejudicial, não só por substâncias naturais da planta, por quantidades grandes de uso, entre outros.. Mas, também, torna-se tóxico ao organismo devido ao uso de pesticidas e de agrotóxicos na plantação da Cannabis sp., sendo reflexo de todo um mercado clandestino. Assim, a maconha pode passar a ser um "vetor" para uma influência ambiental, no qual médicos devem estar atentos.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. GRUPO M
    A maconha pode ser preparada de diferentes formas, algumas dessas preparações, que surgiram recentemente, são denominadas: Amp joint, quando maconha é embebida em formaldeído, seca e posteriormente fumada e Skunk que é a maconha de laboratório, cultivada em condições especiais, com finalidade de obter concentrações 7 a 10 vezes maiores de δ-9-THC, também chamada de "super maconha". Esta última é a única de indicação terapêutica aprovada e seu uso é restrito à pacientes submetidos à quimioterapia que não respondem adequadamente ao tratamento antiemético convencional.
    Em resposta ao uso da maconha podem surgir sintomas cardiovasculares e respiratórios, como taquicardia relacionada à dose, hipotensão postural, complicações agudas em portadores de cardiopatias, irritação vias aéreas superiores bronquite, enfisema, câncer de pulmão e orofaringe.
    REFERÊNCIA:
    http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/mVIII.maco.htm

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  5. Grupo L:
    Além dos jovens universitários,o uso de diversas drogas, lícitas ou ilícitas, é muito comum também entre adolescentes, pois esse é um período de muita instabilidade emocional, e muitos, buscando a autoafirmação dentro de um grupo recorre a essas drogas. Dentre elas a principal é a maconha. O uso de maconha proporciona efeitos prazerosos, como: sensação de relaxamento, cinco sentidos mais aguçados, qualquer coisa torna-se divertida, euforia e
    aumento de prazer sexual. Já os efeitos que causam desprazer são: ansiedade, pânico, paranóia, diminuição das habilidades mentais - especialmente da atenção e memória - diminuição da capacidade motora, aumento do risco de ocorrerem sintomas psicóticos. O uso crônico da maconha pode levar a déficits de aprendizagem e memória, diminuição progressiva da motivação (isto é, apatia e improdutividade, o que caracteriza a "síndrome amotivacional"), piora de distúrbios preexistentes, bronquites e infertilidade (reduz a quantidade de testosterona). No caso de adolescentes, o déficit cognitivo está relacionado a dificuldades na aprendizagem e repetência escolar.
    Até a próxima! :)
    REFERÊNCIA:
    SCHENKER, Miriam; MINAYO, MC de S. Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciênc Saúde Coletiva, v. 10, n. 3, p. 707-17, 2005.

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  6. Grupo D:

    Post interessante!!!
    O maior grupo de substâncias psicoativas prevalentes na Cannabis são os Canabinóides, incluindo o delta-9-tetraidrocanabinol (chamado comumente de THC). Outra substância psicoativa presente na cannabis é o tetraidrocanabivarin (THCV), porém ele aparece apenas em minúsculas quantidades. Adicionalmente, existem outros compostos presentes na Cannabis que não oferecem qualquer efeito psicoativo, porém são necessários para a funcionalidade do THC. São eles: Canabidiol (CBD), Canabivarin (CBV), ácido canabidiólico, entre outros.
    O óleo essencial da cannabis contém vários fragmentos de terpenóides que podem se juntar aos canabinóides para produzirem seus efeitos únicos (tratamentos da dor e cura de várias doenças). O THC é rapidamente convertido em 11-hidroxi-THC, o qual é farmacológicamente ativo, de modo que o efeito da droga supere os níveis mensuráveis de THC no sangue.
    O THC e o canabidiol são antioxidantes neuroprotetores. Pesquisas em ratos indicaram que o THC previne dano oxidante induzido por hidroperóxidos tão bem ou até melhor quanto outros oxidantes em sistemas químicos ou culturas neurológicas. Canabidiol é significamente mais protetor do que as vitaminas E ou C.
    Em 2007 verificou-se que o fumo do tabaco e da cannabis são um tanto similares, com o fumo da cannabis contendo maiores quantidades de amônia, cianeto de hidrogênio e óxidos de nitrogênio, porém menores níveis dos cancerígenos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs). O estudo encontrou que o fumo direto da cannabis contem 20 vezes mais amônia e 5 vezes mais cianeto de hidrogênio do que o fumo do tabaco, avaliando a fumaça da queima direta (apenas utilizando fogo) e em um container (com invólucro: papel de seda e similares). Constatou-se que a fumaça da cannabis com invólucro contém maiores concentrações de HAPs do que a fumaça do tabaco também com invólucro.

    Referências:
    http://pubs.acs.org
    http://www3.interscience.wiley.com
    http://www.pnas.org

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