quinta-feira, 28 de maio de 2015

Um brinde?

Consumo de bebidas alcoólicas entre jovens universitários.


Nas sociedades atuais, o hábito de ingerir bebidas alcoólicas de forma abusiva está classificado entre os dez comportamentos de maior risco à saúde, sendo responsável por cerca de 1,8 milhões de mortes no mundo, das quais 5% vitimizam jovens com idade entre 15 e 29 anos. No final da adolescência, frequentemente, começa a ocorrer uma série de mudanças na vida dos(as) jovens, como a pressão pela escolha da profissão, o vestibular e a maioridade. Nessa etapa da vida, com a transição da escola para a universidade, grande parte deles(as) passa a residir longe das famílias, liga-se a novas amizades e inaugura um período de maior autonomia que lhes possibilita novas experiências. Esse fator tem sido apontado por pais, mães, educadores(as) e demais autoridades como motivo de preocupação, que encontra respaldo em pesquisas realizadas com estudantes universitários, cujos resultados "levam a crer que morar longe da família aumenta a chance de uso de drogas", ou seja, viver fora de casa e adotar comportamentos de risco são situações que andam juntas.
O consumo abusivo, mesmo ocasional, do álcool entre os jovens tem o potencial de representar um importante problema de saúde pública, e essa é uma situação que inclui também os universitários. Alguns autores consideram esse grupo da população particularmente vulnerável ao consumo de bebidas alcoólicas. 
Para os universitários das áreas de ciências biológicas e da saúde, os estudos acerca desse tema são particularmente importantes. São eles que, no futuro, em suas atividades profissionais, deverão orientar e aconselhar seus clientes para a adoção de hábitos saudáveis. Assim, há a necessidade de se considerar a especificidade do padrão de consumo de bebidas alcoólicas dessa população para a elaboração e implantação de programas específicos de intervenção e prevenção. Alguns autores advogam que os estudos na área podem definir medidas a serem inseridas ainda no ensino fundamental e médio com o intuito de minimizar o percentual de consumo e de uso abusivo de bebidas alcoólicas em universitários.



 É fundamental que as atividades de promoção da saúde sobre essa temática sejam desenvolvidas fundamentadas em dados reais, que reflitam a realidade e auxiliem na identificação de intervenções mais efetivas.

Álcool



O álcool é hoje uma das substâncias psicoativas mais utilizadas pela população sendo amplamente aceito. O seu uso como facilitador social traz muitas conseqüências: problemas de saúde, tanto física como psicológica, nas relações familiares, sociais e de emprego, acidentes domésticos, do trabalho e de trânsito, comportamento violento e auto-mutilação, também está relacionado ao desenvolvimento de epidemias, como acidente vascular cerebral, câncer e absentismo escolar, problemas interpessoais e comportamentos sexuais de risco. O consumo de álcool é também um fator de risco na gravidez, estado nutricional e dieta. Vários estudos têm demonstrado a responsabilidade do consumo excessivo de pelo insucesso entre estudantes universitários. (TOVAR, 2010)
Os jovens aprendem que o álcool, pela simbologia que representa, ajuda a reduzir a tensão, a ansiedade, é fonte de prazer, mata a sede, dá força, facilita a digestão, é um medicamento, é alimento, aquece, estimula, os deixa mais encorajados e melhora as relações interpessoais. Estes falsos conceitos são herdados geracionalmente assumindo-se uma prática nos comportamentos dos jovens (CABRAL, 2007).
O uso e a dependência de álcool é um fenômeno complexo e determinado por fatores genéticos, psicológicos e principalmente sociais. Estudos realizados em diferentes contextos socioculturais demonstram que na população de estudantes adolescentes e jovens o índice de consumo de álcool é significativo. (STAMM, 2007)
O consumo de álcool acima dos níveis permitidos está associado não só com os números de morbidade e mortalidade e altos custos sociais, mas também tem efeitos adversos graves sobre as famílias e a comunidade. (TOVAR, 2010)

No decorrer do tempo...


Em meados do século XIX o médico sueco Magnus Huss usou o termo "alcoolismo" para designar todo o grupo de doenças cuja causa foi o álcool. Até o momento foram exibidos inúmeros estudos que descreveram as conseqüências do alcoolismo e alguns aspectos sociológicos do álcool. O consumo de álcool tem sido reconhecido como um fator de integração social. É uma droga cuja facilidade de acesso e poderosos meios de propaganda que utiliza, tornou-se um verdadeiro problema social de quase todos os países e todas as idades. A maioria das pessoas acredita que, enquanto não se tornam alcoólatras típicos, as conseqüências de beber com freqüência, e em altas doses, não são alarmantes, mas os estragos do álcool podem ser graves e irreversíveis. (TOVAR, 2010).
O primeiro episódio de contato e intoxicação com o álcool tende a ocorrer no período da adolescência, considerando que os períodos do ensino médio e ensino superior são uma janela de alto risco para danos e problemas relacionados ao álcool. A necessidade de se socializar e pertencer ao grupo faz com que o consumo de álcool aumente, e as pessoas não percebem que aos poucos estão ingerindo álcool em demasia. (STAMM, 2007).

Pesquisas

Existem vários estudos têm demonstrado a responsabilidade do consumo excessivo de álcool pelo insucesso entre estudantes universitários.
Barroso (2004), num estudo realizado com universitários, encontrou como principais motivos do consumo de bebidas alcoólicas: 48,3% justificou o consumo devido ser fonte de prazer, 28,4% afirmou que ajuda a relaxar e desinibir, 23,3% afirmou que desfruta melhor das festas, dados estes coincidentes com os obtidos por outros autores.
Breda (2000) ao estudar os motivos que levam os jovens ao consumo do álcool encontrou 35,5% que o faziam “por gosto e/ou prazer”, 31,5% “para melhor poder desfrutar das festas e da noite”, 17,5% ”para relaxar e/ou desinibir“, e 5,6% como “complemento alimentar”. Em suma, pelas conclusões dos estudos realizados depreende-se que o álcool faz parte da cultura juvenil como forma de socialização bebendo o jovem normalmente e quase exclusivamente nas celebrações, fins-de-semana e rituais acadêmicos.
Outro estudo realizado em uma faculdade do Ceará mostrou que o álcool acarreta inúmeros problemas nas atividades acadêmicas, tais como notória falta de atenção, ausência, atrasos, saídas antecipadas das aulas, reclamações e sono durante as aulas. (FONSECA, 2002)




O consumo de álcool pode variar em decorrência dos costumes sociais, das famílias ou dos hábitos adquiridos:
Abuso de Álcool: indica a dependência psicológica, ou seja, a necessidade de consumir álcool para o funcionamento mental adequado. Segundo Perez (2000), o abuso é um padrão mal-adaptado de uso de substância levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por um ou mais dos seguintes itens em um período de um ano:

a.Uso recorrente de uma substância que dá origem ao descumprimento das obrigações no trabalho, escola ou em casa;
b.Uso recorrente da substância em situações nas quais é fisicamente perigoso como dirigir bêbado ou continuar a beber muito, apesar de ter freqüentes "apagões";
c.Repetidos problemas jurídicos relacionados com a substância como uma condenação por dirigir embriagado, acidentes de trânsito, abuso sexual, lesões corporais, etc.;
d.Uso contínuo da substância, apesar de ter persistentes ou recorrentes problemas sociais ou problemas interpessoais causados ou agravados pelos efeitos da substância.

Halgin e Krauss (2001) mencionaram a falta de cumprimento das obrigações, o uso de álcool em situações de perigo físico, problemas legais e interpessoais, como o padrão de alterações comportamentais que o abuso manifesta.

Fígado e o Álcool: Via oxidativa


O álcool etílico ou etanol pode ser ingerido na forma de bebida alcoólica, unindo-se a diversos sabores, aromas e preferências dos mais variados consumidores. No entanto, o que acontece com esta substância uma vez que entra em contato com nosso organismo, e quais efeitos ela provoca? Diversos aspectos podem ser abordados, como a embriaguez (famosa bebedeira), a ressaca deixada no dia seguinte, entre outros efeitos momentâneos. Porém, é muito importante ressaltar os efeitos prolixos, derivados do uso constante, muitas vezes abusivo, e que pode deixar sérias lesões ao consumidor.
Uma vez ingerido, o álcool, que não possui em si enzimas digestivas, percorre o caminho do sistema digestório, até chegar aos dois principais locais aonde se dará sua absorção: 0-5% do etanol é absorvido pela mucosa gástrica e o restante, cerca de 80 á 95% é absorvido na mucosa intestinal. Essa porcentagem pode variar de acordo com alguns fatores que alteram a absorção, como: temperatura, alimentos e presença de CO2. (Essa é uma das razões pelas quais se recomenda estar bem alimentado antes de beber. A presença de alimentos no sistema digestivo torna a absorção do álcool moderadamente mais lenta, já que este não é o único elemento a ser digerido).
O etanol segue seu destino. 80-90% dele será oxidado no fígado, com o auxílio de enzimas. (os outros 10% se destinarão aos diversos tecidos do corpo humano caso o álcool tenha sido 90% metabolizado no fígado. Caso seu metabolismo no órgão seja de 80%, 10% restantes são destinados aos tecidos enquanto que os outros 10% dele será expelido pela respiração ou excretado na urina). As enzimas que auxiliam nesse processo são a Álcool desidrogenase (ADH)- que catalisa a oxidação a acetaldeído; a CYP2E1, - principal componente do sistema microssomal hepático de oxidação do etanol (MEOS); e a catalase, - localizada nos peroxissomas dos hepatócitos, responsável por apenas cerca de 10% da oxidação. Vamos conhecer um pouco mais essas enzimas e suas propriedades para então passarmos ao seu funcionamento em conjunto:
  • Álcool Desidrogenase (ADH): Presentes no citosol, consiste em uma variedade de isoenzimas que oxidam álcoois de diferentes tamanhos de cadeia (classes 1 a 5). As da classe 1, no entanto, são as mais abundantes.

  • MEOS (Sistema Microssomal de Oxidação do Etanol): Enzima que envolve proteínas do complexo do citocromo P-450, consome NADPH e O2, produzindo H20 e radicais livres. Ela oxida cerca de 10 á 20% do etanol ingerido, podendo aumentar essa porcentagem de acordo com a ingestão do indivíduo.Além de oxidar o etanol, a CYP2E1 inativa também diversos medicamentos - aumentando até mesmo a resistência de alcoólatras a alguns medicamentos -, além de potencializar os efeitos da medicação e do álcool quando ingeridos em conjunto.
  • Catalase: Localizada nos peroxissomos, essa enzima utilizada é em escala menor, apenas quando há necessidade de reduzir o H2O2. Diferentemente de outras, não produz NADH.
  • Aldeído Desidrogenase (ALDH): Encontra-se presente na mitocôndria e produz NADH. É utilizada no tratamento para alcoolistas envolvendo a inibição desta.
Grande parte do álcool no sangue é metabolizado no fígado através de uma via principal e duas acessórias. O etanol é primeiramente convertido em acetaldeído pela álcool desidrogenase.


O destino do acetato, convertido em acetil-CoA (acetil CoA-Sintase) pode ser dividido em três: Transformar-se em ácidos graxos, corpos cetônicos ou colesterol. Quando o acetil-CoA é lançado na corrente sanguínea, pode ser oxidado em outros tecidos participando do Ciclo de Krebs.
É necessário citar a energia produzida diante todas esses processos e oxidações, que consomem diversos níveis de energia mas também as produzem: Forma-se 1 NADH citosólico (pela ADH) 1 NADH mitocondrial, 1 Acetil-CoA. A formação de ATP varia de acordo com a quantidade ingerida.

Efeitos



  • Efeitos imediatos: Em pequenas quantidades, o álcool tem efeito sedativo, levando a sentimentos de calor, conforto e relaxamento. Em quantidades maiores, o álcool pode levar o indivíduo a se sentir mais sociável, auto-confiante e desinibido. Algumas pessoas deixam de beber quando alcançam um humor positivo, no entanto, se um indivíduo continua a beber além deste ponto, os efeitos do álcool como droga depressora se torna mais evidente e aparecem sinais como sonolência, alterações na coordenação motora, irritabilidade, disforia. Beber em excesso afeta as funções vitais de uma pessoa e pode ser fatal a mistura de álcool com outras drogas.
  • Efeitos a longo prazo: Em parte, os efeitos adversos do álcool a longo prazo podem ser atribuídos ao fator tolerância. Quanto mais uma pessoa consome álcool, mais álcool e necessário para alcançar o efeito desejado.
O álcool afeta todos os órgãos e sistemas do corpo humano, seja direta ou indiretamente. O uso de álcool a longo prazo pode causar danos cerebrais permanentes com sintomas de demência, desmaio, alucinações e danos às partes periféricas do sistema nervoso.
A morte confirmada a partir do uso de álcool a longo prazo e freqüentemente associada com doença hepática.
No Brasil, dados estatísticos demonstram que o álcool é responsável por 47% dos acidentes de trânsito (principal causa de morte entre jovens), por 41% dos homicídios, por um número expressivo de assassinatos, brigas e suicídio (COTRIM, 2002). Outros apontamentos estatísticos indicam que aproximadamente 84% dos brasileiros fazem uso ocasional de bebida alcoólica; 21% a consomem diariamente e 19% têm uma embriaguês alcoólica semanal (VAISSMAN, 2004).
O abuso de substâncias psicoativas legais e ilegais é reconhecido mundialmente como um problema real que afeta negativamente a humanidade como um todo, por seus impactos sobre a economia, o desempenho profissional e acadêmico, o estado de saúde, a vida social e familiar do consumidor individual (TOVAR, 2010).

Morte de estudante da Unesp após coma alcoólico mostra cultura de consumo abusivo de álcool e falta de conhecimento


Na tarde de sábado (28/02/2015), universitários do interior de São Paulo se reuniram para uma festa tradicional de repúblicas de Bauru. A comemoração, com bebida à vontade (open bar), aconteceu em uma chácara e era patrocinada por uma marca de cerveja. Durante um dos jogos de beber anunciado pela organização da festa, o estudante Humberto Fonseca, de 23 anos, tomou cerca de 25 doses de vodca em uma competição de quem bebia mais. Ele e outros seis estudantes foram parar no hospital. Fonseca não resistiu ao coma alcoólico e três alunos ficaram internados. 
A tragédia alerta para a necessidade de combate à cultura de uso abusivo de álcool entre universitários.

Considerações Finais



O uso excessivo de bebidas alcoólicas é uma preocupação mundial; a influência deste hábito na vida coletiva e individual acarreta problemas que interferem sobremaneira nas questões sociais.
E é isso, até a próxima postagens...

Referências


BARROSO, Teresa. Álcool e comportamentos de risco em jovens estudantes. In Actas do 5º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde., Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian. 2004.

BREDA, J. Bebidas alcoólicas em jovens escolares: um estudo sobre consumos, conhecimentos e atitudes. Boletim do Centro Regional de Alcoologia Coimbra. 2000. v.4, p. 6-8.

CABRAL, Lídia do Rosário; FARATE, Carlos Manoel da Cruz; DUARTE, João Carvalho. Representações sociais sobre o álcool em estudantes do ensino superior, Revista Referência, n,4, v.2. Jun. 2007.

COTRIM, B.C Drogas: mitos e verdades. 7 ed. São Paulo: Ática, 2002.

FONSECA, A.G. Drogas: não caia nessa! 6 ed. São Paulo: Aparecida, 2002.

HALGIN, Richard P. KRAUSS, Whitbourne Susan. Psicología De La Anormalidad. Perspectiva Clínica Sobre Desordenes Psicológicos. 4ª ed. McGraw Hill Interamericana, 491p. 2001.

PÉREZ MA, PIZÓN Pérez H. Alcohol, tobacco, and other psychoactive drug use among high school students in Bogotá, Colombia. J Sch Health 2000; v.70, p. 377-80, 2000.

STAMM, Mariestela; BRESSAN, Liamari. Consumo de álcool entre estudantes do curso de enfermagem de um município do oeste catarinense. Revista Ciência Cuidado e Saúde, v.6, n.3, p. 319-324, Jul/set. 2007.

TOVAR, Luísa Leonor Arévalo; CABALLERO, Antonio José Diaz; MARTINEZ, Farith Damián González; PALLARES, Miguel Angel Simancas. Consumo de bebidas alcohólicas y factores relacionados en estudiantes de odontologia. Rev Clín Med Fam, v.3, n.2, p. 93- 98, 2010.

VAISSMAN, M. Alcoolismo no trabalho. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Clube dos Haxixins

Seria a maconha tão prejudicial quanto dizem?



Fala galera! Depois de entender como o pessoal tenta relaxar com as drogas de prescrição vamos passar a outro método muito procurado para o mesmo fim: a maconha.
A cannabis é conhecida e utilizada pela humanidade, para os mais diversos fins, há pelo menos 6000 anos. Sua origem não é bem conhecida, mas evidências apontam para a região da Ásia Central. A farmacopéia Pen Tsao Ching, escrita em 100 dC, reunia as propriedades farmacológicas das plantas medicinais utilizadas a séculos, e entra elas estava presente a cannabis. Desde então a utilização da planta era diretamente ligada a rituais de cura e ao misticismo.
Na cultura hindu, por exemplo, o uso da maconha possui grande representatividade religiosa. Segundo a tradição indiana, a planta fora um presente dos deuses, capaz de prover prazer e coragem.



Em 1845, na França, um grupo de artistas e escritores se reunia no Clube dos Haxixins, onde o objetivo era cultuar o consumo do haxixe e fomentar a produção artística.Curiosamente nesta mesma época Lewis Carroll publicou o livro Alice no País das Maravilhas, povoada por imagens alusórias ao uso de haxixe.
A medicina retomou seu uso terapêutico nessa mesma época, principalmente no tratamento de asma, tosse e doenças nervosas. Somente no fim do século XVIII os movimentos contrários ao uso de psicotrópicos ganham força. No século XIX, ao final da década de 30, a maconha, a cocaína e diversas outras substâncias já eram proibidas em diversos países.
O movimento beatnik, o movimento hippie e o fim dos anos 70 difundiram novamente o uso da maconha no ocidente, como forma de protesto social e político de uma geração.



Sim, mas e a bioquímica?


A principal substância bioativa presente na maconha é o tetrahidrocanabiol, o THC. Este é apenas um dos 66 fitocanabinóides presentes na planta, porém é o mais estudado e que media grande parte dos efeitos comportamentais. O THC pode interagir com dois tipos de receptores canabinóides presentes em nosso organismo: o CB1, que se distribui pelo Sistema Nervoso Central; e o CB2, encontrados nos tecidos periféricos.



O mecanismo de atuação do THC sobre o organismo não é completamente conhecido, mas sabe-se que alguns receptores localizam-se nos neurônios opióides endógenos. Uma interação entre esses neurônios e os neurônios dopaminérgicos do sistema límbico provoca a liberação de dopamina na fenda sináptica, o que é responsável pelo efeito clínico de euforia e prazer relacionados ao uso da droga. Aqui uma animação muito didática a respeito da ação do THC sobre o SNC.

Os efeitos do consumo de maconha dependem de diversos fatores, como a concentração de THC da planta e a sensibilidade do usuário, mas, em geral, há alterações nos sentidos, cognitivas e de humor. Há alterações da noção de tempo e espaço, e ilusões visuais e auditivas. O humor pode variar de um estado eufórico à sintomas de mal-estar psíquico, como tristeza, sensação de pânico e perda do controle. O pensamento se lentifica e as associações de idéia ficam menos coerentes, tendendo à mudança de assunto ou à incapacidade de articular o pensamento com a mesma facilidade habitual. Há também um aumento exagerado do apetite, voltado principalmente para o consumo de carboidratos.

Os efeitos adversos da Cannabis podem ser divididos em duas categorias: os efeitos do hábito de fumar a planta e os causados pelas principais substâncias isoladas (canabinóides). O fumo crônico provoca alterações das células do trato respiratório e aumenta a incidência de câncer de pulmão. Um dos efeitos associados ao longo tempo de exposição aos canabinóides é a dependência dos efeitos psicoativos com a cessação do uso. Os sintomas da dependência dos efeitos psicotrópicos da planta incluem agitação, insônia, irritabilidade, náusea e câimbras. Pesquisas também mostram que a Cannabis não causa dependência física (como cocaína, heroína, cafeína e nicotina) e que a suspensão do uso não causa síndrome de abstinência (como o álcool e a heroína).

E na Medicina?

O uso medicinal da Cannabis hoje é permitido em alguns estados americanos e em determinados países, para aliviar sintomas relacionados ao tratamento de câncer, AIDS, esclerose múltipla e síndrome de Tourette. Muitos oncologistas e pacientes defendem o uso da Cannabis, ou do D9-THC, como agente antiemético. Desta maneira, o uso da Cannabis na quimioterapia pode ser eficiente em pacientes apresentando náuseas e vômitos, sintomas que não são controlados com outros medicamentos.
A alta pressão intra-ocular é um dos fatores de risco para desenvolvimento de glaucoma e a planta Cannabis pode agir diminuindo esta pressão, mas este efeito é de curta duração e só é conseguido com altas doses da planta. Apesar do glaucoma ser uma das indicações mais citadas para o uso da Cannabis, a droga só é utilizada em casos mais graves. Uma atividade biológica apresentada pelos compostos canabinóides é a analgésica. Na história, diversos compostos alucinógenos, como o ópio, foram relacionados à atividade analgésica. Em relatos científicos, a morfina aparece em 1803 e tem sua estrutura definida em 1925. Este foi o ponto de partida para modificações estruturais nas moléculas de canabinóides, visando aumentar a atividade analgésica e diminuir a dependência causada pela droga. Alguns compostos canabinóides modificados chegaram a apresentar um potencial analgésico cerca de 6000 vezes superior ao da morfina.



Como vimos, a história do uso de cannabis é longa, diversa e controversa. O assunto é delicado e promove discussões acaloradas. Sobre o uso entre universitários, a legalização e mais ainda, esperem pelo próximo post! (E visitem o blog Bioquímica nas Políticas Sociais)


Referências


  • HONORIO, Káthia Maria; ARROIO, Agnaldo; SILVA, Albérico Borges Ferreira da. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa. Quím. Nova, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 318-325, Apr. 2006. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422006000200024&lng=en&nrm=iso>. access on 13 May 2015. 
  • Site Álcool e Drogas sem Distorção (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

terça-feira, 5 de maio de 2015

Calma, jovem !

O uso de tranquilizantes!




A ansiedade é um estado desagradável de tensão, apreensão e inquietação – um medo de origens às vezes desconhecida. E nós estudantes universitários passamos por muitos desses momentos em nossa jornada acadêmica. É comum o cansaço, principalmente em final de semestre e, por conta desse processo, muitos jovens fazerem uso de sedativos para poderem descansar tanto fisicamente quanto mentalmente. 


Definição:

Sedativo é nome que se dá aos medicamentos capazes de diminuir a atividade de nosso cérebro, principalmente quando ele está num estado de excitação acima do normal. O termo sedativo é sinônimo de calmante ou sedante. Quando o mesmo é capaz de diminuir a dor ele recebe o nome de analgésico. Já quando é capaz de afastar a insônia, produzindo sono, é chamado de hipnótico ou sonífero. E quando um calmante tem o poder de atuar mais sobre estados exagerados de ansiedade, ele é denominado de ansiolítico. Finalmente, existem algumas destas drogas que são capazes de acalmar o cérebro hiperexcitável dos epilépticos. São as drogas antiepilépticas, capazes de prevenir as convulsões destes doentes.



Essas drogas são capazes de deprimir várias áreas do nosso cérebro; como conseqüência as pessoas podem ficar mais sonolentas, sentindo-se menos tensas, com uma sensação de calma e de relaxamento. As capacidades de raciocínio e de concentração ficam também afetadas. Com doses um pouco maiores do que as recomendadas pelos médicos, a pessoa começa a sentir-se como que embriagada (sensação mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcoólicas em excesso): a fala fica “pastosa”, a pessoa pode sentir-se com dificuldade de andar direito. Esses efeitos deixam claro que quem usa esse tipo de medicamento tem a atenção e sua faculdades psicomotoras prejudicadas, assim sendo, fica perigoso operar máquina, dirigir, etc. Eles são quase que exclusivamente de ação central (cerebral), isto é, não agem nos nossos demais órgãos. Assim, a respiração, o coração e a pressão do sangue são afetados quando o sedativo, em dose excessiva, age nas áreas do cérebro que comandam as funções dos órgãos já citados.

Cuidado!

Os tranquilizantes são drogas perigosas porque a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da que produz os efeitos terapêuticos desejáveis. Com estas doses tóxicas começam a surgir sinais de incoordenação motora, um estado de inconsciência começa a tornar conta da pessoa, ela passa a ter dificuldade para se movimentar, o sono fica muito pesado e por fim aparece um estado de coma. A pessoa não responde a nada, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar. A morte ocorre exatamente por parada respiratória. É muito importante saber que estes efeitos tóxicos ficam muito mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas. Às vezes intoxicação séria pode ocorrer por este motivo. Outro aspecto importante quanto aos efeitos tóxicos refere-se ao uso por mulheres grávidas. Estas drogas têm potencial teratogênico, além de provocarem sinais de abstinência (tais como dificuldades respiratórias, irritabilidade, distúrbios de sono e dificuldade de alimentação) em recém-nascidos de mães que fizeram uso durante a gravidez.

Existem muitas evidências de que essas drogas levam as pessoas a um estado de dependência; com o tempo a dose tem também que ser aumentada, ou seja, há o desenvolvimento de tolerância. Estes fenômenos se desenvolvem com maior rapidez quando doses iniciais grandes são usadas desde o início. Quando a pessoa está dependente dos calmantes e deixa de tomá-los, passa a ter a síndrome de abstinência. Esta vai desde insônia rebelde, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia, até convulsões generalizadas. A síndrome de abstinência requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a falecer.



No Brasil

O uso de tranquilizantes tem aumentado significativamente no Brasil, caracterizando o uso irracional de um medicamento que pode ser prejudicial aos seus usuários. O fato de pesquisas atuais confirmarem o quadro de uso excessivo de sedativos traz a preocupação em definir estratégias para melhorar o nível de informações das pessoas quanto aos possíveis riscos de dependências, além das reações adversas que podem surgir com seu uso indiscriminado.
Outro ponto muito sensível está relacionado à prescrição desses medicamentos, sujeitos a controle especial, visto que os pacientes precisam de uma receita para comprá-los. Segundo a especialista, é importante analisar a real necessidade do uso desses medicamentos, fato que só pode ser avaliado pelos médicos especialistas no assunto, ou seja, psiquiatras.


O uso desses medicamentos realmente pode ser o tratamento ideal, mas é preciso ter cuidado. Sem a prescrição médica adequada, os tranquilizantes podem oferecer risco à saúde e até piorar a situação do indivíduo.

Quando bem indicados, esses medicamentos atuam de modo muito útil, suavizando os sintomas de ansiedade e possibilitando ao paciente encarar situações com mais realismo e a reagir de modo mais maduro e eficaz. Mal indicados, podem ser inúteis e até prejudiciais. Quem deve tomar tranquilizantes, quanto, quando, qual, como e para quê, são respostas que só devem ser dadas pelo médico que atende o paciente”, afirma o psiquiatra do Hospital Albert Einstein, Dr. Mauro Moore Madureira.

Falsos médicos de plantão

Quando o indivíduo se sente mal, psicológica ou emocionalmente, e procura um especialista, sua chance de melhorar é mais efetiva e mais rápida. Quando sai pedindo conselhos para as pessoas que conhece, pode ouvir respostas muitos distantes de sua necessidade. Só mesmo o médico, que estudou muito e que praticou seu ofício durante anos, deve ser quem decide. Cada caso deve ser tratado de forma individual, pois a diferença entre o saudável e o patológico nem sempre é clara. Fatos estressantes provocam nas pessoas reações bastante diferentes.


Pesquisa


A Proteste realizou uma pesquisa sobre tranquilizantes como ansiolíticos, antidepressivos e hipnóticos, com pessoas de cinco países, para analisar o uso destes medicamentos. E o resultado revelou que a epidemia dos Rivotris, Valiums, Prozacs e afins no Brasil é mais grave do que nos demais pesquisados: Bélgica, Itália, Espanha e Portugal. Os brasileiros demonstraram um uso crônico significativamente mais alto, principalmente de antidepressivos. Dos entrevistados do país, 45% contaram já ter feito uso desses medicamentos e também declararam ter consumido mais de todas as categorias de remédios no último ano (2012). E 35% dos brasileiros pesquisados apresentam sinais de dependência de ansiolíticos e hipnóticos. 
O uso destes medicamentos está associado a indivíduos com estilo de vida pouco saudável, que sofrem de insônia, são fumantes, sedentários, estressados e portadores de transtornos de ansiedade ou depressão. 
Dos cinco países participantes da pesquisa, o Brasil foi o que registrou os índices mais elevados de usuários que começaram a usar tranquilizantes tanto antes de completar 26 anos (35%) como antes dos 18 anos (10%).

A Proteste apresentou os resultados da pesquisa à Associação Médica Brasileira (AMB), ao Conselho Federal de Medicina (CFM), à Associação Paulista de Medicina (APM) e ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para que, por meio de ações conjuntas junto aos profissionais e ao público em geral, haja um alerta a respeito desses medicamentos e dos malefícios que podem causar à saúde.

É, depois de tudo o que foi falado aqui, acho que é bom ter um pouco mais de cuidado com esses medicamentos, pois acabamos de saber quais os malefícios que eles podem trazer para as nossas vidas.
E você já usou algum calmante/tranquilizante? Conte sua experiência aqui nos comentários... 
Então é isso! Até semana que vem, com a próxima postagem e o próximo assunto a ser discutido... 




Referências:

  • MAXPRESS (Brasil). Aumenta o uso de sedativos no Brasil. 2014. Disponível em: <http://www.maxpressnet.com.br/Conteudo/1,657166,Aumenta_o_uso_de_sedativos_no_Brasil,657166,7.htm>. Acesso em: 01 maio 2015.
  • CENTRO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS PSICOTRÓPICAS (Brasil). Calmantes. Disponível em: <http://www.cebrid.epm.br/folhetos/calmantes_.htm>. Acesso em: 01 maio 2015.
  • MATTE, Tatiane Sinara. ABORDAGEM SOBRE O USO IRRACIONAL DE BENZODIAZEPÍNICOS NO BRASIL. Disponível em: <https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/salaoconhecimento/article/viewFile/3441/2842>. Acesso em: 01 maio 2015.
  • CENTRO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES SOBRE DROGAS PSICOTRÓPICAS. Calmantes e sedativos. Disponível em: <http://www2.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/quest_drogas/calmantes.htm>. Acesso em: 01 maio 2015.
  • HOSPITAL ALBERT EINSTEIN. Alerta: uso indiscrimado de calmantes traz grandes riscos à saúde. 2011. Disponível em: <http://www.einstein.br/einstein-saude/em-dia-com-a-saude/Paginas/alerta-uso-indiscrimado-de-calmantes-traz-grandes-riscos-a-saude.aspx>. Acesso em: 03 maio 2015.
  • VERDADE GOSPEL. Brasileiros usam mais calmantes do que europeus, diz pesquisa. 2013. Disponível em: <http://www.verdadegospel.com/brasileiros-usam-mais-calmantes-do-que-europeus-diz-pesquisa/>. Acesso em: 03 maio 2015.