domingo, 21 de junho de 2015

Abra sua mente

A Ayahuasca e a alteração de consciência




O chá de ayahuasca, também é conhecido como yajé, caapi, vinho de deus. Na linguagem Quéchua, aya significa espírito ou ancestral, e huasca significa vinho ou chá. A bebida consiste da infusão do cipó Banisteriopsis caapi e as folhas do arbusto Psycotria viridis. O uso – inicialmente restrito aos povos indígenas – passou a ser incorporado pelas civilizações e vilarejos da Amazônia Ocidental, surgindo daí um tipo de medicina popular entre civilizações rurais do Peru e da Colômbia, que mantém elementos antigos sobre plantas, absorvidos das tribos indígenas e influências do esoterismo europeu dos colonizadores.
Seu consumo está associado a práticas religiosas, e no Brasil é utilizada em rituais do Santo Daime e da União do Vegetal. Os efeitos, desse modo, estão bastante relacionados aos rituais religiosos, baseados na crença da possibilidade de contato com outros planos espirituais.
A Ayahuasca é percebida entre os povos indígenas como uma poção mágica inebriante, de origem divina, que "facilita o desprendimento da alma de seu confinamento corpóreo". É  usada ainda hoje para propósitos de cura, religião e para fornecer visões que são importantes no planejamento de caçadas, prevenção contra espíritos malévolos, bem como contra ataques de feras da floresta.

Sim, e como isso ocorre?

Os efeitos alucinógenos do chá de Santo Daime se deve à presença nas folhas da chacrona de uma substância alucinógena denominada N,N-dimetiltriptamina (DMT). O DMT é destruído pelo organismo por meio da enzima monoaminaoxidase (MAO). No entanto, o caapi possui uma substância capaz de bloquear os efeitos da MAO: a harmalina. Desse modo, o DMT tem sua ação alucinógena intensificada e prolongada. Outras plantas amazônicas também possuem DMT e são utilizadas por diversas tribos indígenas como um modo de experiência religiosa. Entre estas estão a jurema (Mimosa hostilis) e o yopo (Anadenanthera colubrina). A jurema é consumida na forma de chá, enquanto as sementes do yopo são maceradas e seu pó, consumido pela via intranasal (cheirado).


O DMT é conhecido como a molécula do espírito e se assemelha um pouco ao LSD, Seus efeitos conhecidos podem durar de 30 minutos a algumas poucas horas. (Inclusive, pesquisem DMT no google imagens, é massa!)

Primeiros instantes:
Visões e pensamentos muito rápidos;
Objetos perderem as formas;
Objetos se dissolverem;

Após os primeiros 5 minutos:
Pupilas dilatadas;
Batimento cardíaco acelerado;
Pressão arterial aumenta;

Dentro de 10 minutos:
Alucinações de olhos fechados e abertos;
Grande movimentação na visão
Dificuldade nas expressões e pensamentos;
Pressentimentos que podem levar ao medo.

A Ayahuasca pode promover ilusões visuais, auditivas, olfativas e dos demais sentidos. Os chamados “estados alterados de consciência” provocados pelo chá podem ser considerados como alterações da percepção, cognição, volição e afetividade. Sensação de rejuvenescimento, êxtase e desespero também são relatos comuns. A alteração da percepção do tempo ocorre com frequência, assim como a ação alucinógena conhecida como “miração”, que é uma manifestação específica, caracterizada por visões de animais, “seres da floresta”, divindades, demônios, sensação de voar, substituição do corpo pelo de outro ser (homem ou animal), dentre muitas outras.

As complicações


O grande risco do uso das substâncias alucinógenas é o fato de serem metabolizadas e excretadas com certa lentidão pelo nosso organismo. O que pode causar efeitos tóxicos e mesmo levar à morte ou a internações psiquiátricas se ingeridas em altas doses. Porém a predisposição de fatores genéticos para psicose é um fator importante quando se considera o perigo de desencadeamento de surtos psicóticos para quem fizer uso desse chá. O indivíduo poderá ser conduzido a estado mental e emocional de êxtase, narcose onírica, visões do próprio self e visualizações psicodélicas das mais diversas. Será no sistema límbico do SNC, o principal centro cerebral de nossas emoções, que este chá poderá, entre outras funções, resultar em ação terapêutica antidepressiva.
O DMT também pode causar depois do uso, irritações na garganta, distúrbios no sono e dificuldade de concentração para se fazer tarefas. Assim como ocorre com outras drogas alucinógenas, as pessoas que usam o DMT podem aumentar sua dose frequentemente, pois o efeito começa a ter menos intensidade e o período que os efeitos são percebidos se tornam mais curtos. Não é recomendada a mistura do DMT com outras drogas, e é muito perigoso o uso por pessoas que tem a pressão alta.

Na medicina

 

Estudo de pesquisadores da Unifesp e da USP indica que a ayahuasca pode ter efeitos terapêuticos em casos de depressão e mal de Parkinson. No experimento, os pesquisadores administraram soluções com dosagens variadas, além de placebo, a roedores. A estrutura cerebral de cada grupo foi comparada. Os cientistas concluíram que no cérebro dos animais que tomaram ayahuasca houve diferentes níveis de produção de neurotransmissores – noradrenalina, dopamina e serotonina. 
Os neurotransmissores propagam estímulos entre os neurônios. Após a ação, eles são recaptados ou destruídos por enzimas. A ayahuasca inibe as enzimas e concentra os neurotransmissores nas fendas sinápticas, fazendo com que eles tenham uma ação mais prolongada, o que potencializa suas ações.
“Já se sabia que alguns componentes da ayahuasca poderiam agir como antidepressivos. Mas não era sabido que eles alteravam a liberação de neurotransmissores em áreas cerebrais específicas”, afirma Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, do departamento de bioquímica da Unifesp.
O estudo é pioneiro em mostrar que a ayahuasca age de formas peculiares no hipocampo (área relacionada a aquisição de memória) e na amígdala (ligada a emoções).
Para Dartiu Xavier da Silveira, professor de psiquiatria da Unifesp e um dos responsáveis pelo estudo, alguns dos achados sugerem que o ayahuasca possa vir a ser um recurso para outras doenças, como dependência química e ansiedade. “Os tratamentos dessas doenças não funcionam para todos os pacientes. Cerca de um terço dos pacientes não melhora com nenhum antidepressivo disponível.”.

Deve-se frisar que nenhuma droga, seja ela medicamentosa ou recreativa, é completamente eficiente quanto à especificidade da ação farmacológica. Portanto, cautela sempre!

Encerrando!

É isso aí galera, com esse post encerramos nossas atividades desse semestre. Esperamos que nossas postagens tenham sido úteis de alguma forma. Até mais!

Referências:
  • DE SOUZA, P.A.. Alcaloides e o chá de ayahuasca: uma correlação dos "estados alterados da consciência" induzido por alucinógenos. Rev. bras. plantas med., Botucatu , v. 13, n. 3, p. 349-358, 2011
  • COSTA, M.C.M; FIGUEIREDO, M.C.; CAZENAVE, S.O.S.; Ayahuasca: Uma abordagem toxicológica do uso ritualístico. Rev. Psiquiatria USP, São Paulo, v.32, n. 6, p. 310.
  • Correio da Amazônia: Cientistas testam ayahuasca para Depressão e Parkinson. Disponível em: <http://www.correiodaamazonia.com.br/cientistas-testam-ayahuasca-para-depressao-e-parkinson/>

Um comentário:

  1. Ótimo post, pessoal! Na bebida Ayahuasca também são encontradas as beta-carbolinas, que são inibidoras da MAO, portanto inibem a desaminação intestinal do DMT, possibilitando a chegada deste ao cérebro. Além disso, elas ainda aumentam os níveis de serotonina, dopamina, norepinefrina e epinefina no cérebro. Os efeitos sedativos primários de altas doses de beta-carbolinas são resultantes do bloqueio da desaminação da serotonina. A tetra-hidro-harmina (THH) é a segunda b-carbolina mais abundante no chá e atua como um fraco inibidor da recaptação do receptor 5-HT e inibidor da MAO, portanto, o THH pode prolongar a meia vida do DMT por bloquear a sua recaptação intraneuronal.
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832005000600001

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